João Soares Neto – Escsritor – Matéria publicada na seção OPINIÃO – IDÉIAS – DIARIO DO NORDESTE – 19.04.2009
Não sou dos que fazem muita fé no acordo ortográfico entre países de língua portuguesa. Não acredito que trema, hífen, acento etc. sejam a solução para as nossas diferenças no falar e no escrever. Somos 190 milhões de brasileiros. Os do Sul do país falam com sotaques e vocabulários diferentes dos do Nordeste e do Norte. Os do Centro-Oeste têm peculiaridades que os do leste não compreendem. Imaginem os outros países lusofônicos, com diferenças nítidas na comunicação. O Português em África é distinto do falado em Portugal. Essas regras são uma tentativa para dar identidade ortográfica ao Brasil, Portugal, Cabo Verde, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe, Angola, Moçambique e Timor Leste. Eles somam 30 milhões de pessoas. Fique claro que não sou lingüista (se escreve com trema ou sem trema?), mas leitor compulsivo. Agora mesmo, estive lendo o livro alemão ´Neblina sobre Mannheim´ traduzido, em Portugal, por Fátima Freire Andrade. Cito exemplos de textos e palavras com significados distintos para portugueses e brasileiros.
Vejam: sobre um percurso de carro que ´foi feito em pára-arranca, e eu teria gostado de ter três pés para embraiar, travar e acelerar´. O que foi dito? Que um carro aumentava e diminuía a velocidade (pára-arranca), usando-se a embreagem (embraiagem), travando (freando) e acelerando. ´Agarrei na mão do miúdo´, segurei a mão do menino. ´Berma´ expressa acostamento. ´Era patusco de se ver´ é engraçado de se ver. ´Empregados e empregadas de mesa´ são garçons. ´Uma balda às aulas´ é gazetear, faltar às aulas. Estudantes portam ´badamecos´, que são pastas ou bolsas. O ´urinol´ não é o de antigo uso, mas o mictório público. ´Descapotável´ é o carro conversível. ´Comboio´ é trem e ´autocarro´ é ônibus que tem bicha (fila). Maria ´está a me fazer olhinhos´, está a piscar os olhos para mim. ´Isco´ é isca de peixe. Português não usa paletó, usa ´fato´, que pode estar na ´montra´ (vitrina).
Enfim, ortografia não disciplina linguagem. Vou parar por aqui, certo de que vocês estão confusos, mas não estão sós.
Também estou. Pois, pois.
JOÃO SOARES NETO - Escritor
Por solicitação de vários leitores, reproduzimos esta " pérola", de reconhecido autor local!
Lembramos que esta posição é pessoal, parece se dirigir únicamente "aos países de língua portuguesa", que é evidentemente o que está em causa! A bem das sagradas autonomias, cada um que se governe...
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4 comentários:
Acredito que este seja tipo de assunto merecedor de uma discussão mais profunda e como tal, deve-se evitar recortes ou manipulações, considerando que muitas informações subjacentes são necessárias para maior esclarecimento da população.
"Solução para as nossas diferenças no falar e no escrever"!
FALA SÉRIO!!!!
Sr. Autor, vc se identificou como escritor! Ou será que é só um mero leitor......
Me parece mesmo comentário de leitor, lindo, leve e solto.....
Não sei se será um assunto que mereça uma discussão assim tão aprofundada... pessoalmente acho que o acordo ortográfico não deu, ou não dará (ainda nem percebi se já existe) algo de novo para as "nossas diferenças no falar e no escrever". Não comunicamos? Sempre nos entendemos e comunicámos, nalguns casos, até bem de mais. Na verdade, estas "pequenas" diferenças são muito interessantes e, essas sim, dignas de pensamentos.
os exemplos citados, de forma alguma me confundem, só demonstra que os portugueses conhecem a linguagem e expressões dos brasileiros, enquanto que estes últimos, nem tanto. (ainda bem que o escritor é leitor compulsivo)
Os portugueses entendem mais os brasileiros porque consomem nossas telenovelas a muitos anos, além de nossas músicas.Habituaram-se ás nossas expressões. Exemplo de colonialismo às avessas.....a língua portuguesa falada o Brasil é viva e muda constantemente, o que a torna mais rica. Além disso, nós não temos influência alguma de portugal no campo cultural. Somos da alegria do samba e não da tristeza do fato. Percebes?
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